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MP vai pedir exame grafotécnico para conferir letra de morto
Publicada em 29/05/2007 às 20h28m
Wagner Gomes, Leonardo Guandeline, O Globo Online
SÃO PAULO - O promotor de Justiça Silvio da Silva Brandini deve pedir um exame grafotécnico para confirmar se a assinatura de uma carta psicografada por um médium é mesmo de um morto que inocentava o réu.
 Brandini diz que desconfia da veracidade do documento, que tem quatro assinaturas da pessoa que foi assassinada. Paulo Roberto Pires, o Paulinho do Estacionamento, foi morto com 18 tiros em abril de 1997 em Ourinhos, a 371 quilômetros da capital. O concunhado dele, Milton dos Santos, é apontado como o mandante do crime. O julgamento tinha sido marcado para 17 de maio deste ano, mas a promotoria pediu a suspensão depois que o advogado de defesa do acusado apareceu com uma carta, de 11 páginas, onde o morto inocentava o réu. Um novo julgamento deve acontecer somente em julho.

- Os jurados poderiam se influenciar pela carta, que ninguém sabe se é ou não verdadeira. Eles poderiam ser levados pela emoção, pelo sensacionalismo e julgar de maneira errada. É preciso explicações mínimas sobre o caso. Se não é o Milton, quem seria o culpado? - questiona, acrescentando que existem na cidade quatro processos de falsificação de assinatura de Paulinho.

Segundo o promotor, mesmo que a carta seja psicografada, é difícil atribuir valor a uma coisa que realmente não pertence a este mundo. O médium Rogério H. Leite, que psicografou a carta que levou à suspensão do julgamento, afirmou que são comuns relatos de mortos sobre assassinatos e que eles servem, principalmente, para tranqüilizar os familiares. O médium confirmou ter

psicografado a carta da vítima inocentando o comerciante, que é acusado pelo crime.

- Creio que a carta possa ter servido de subsídio para uma melhor avaliação dos fatos pela Justiça e jurados. Casos como esse têm sido comuns ao longo de sete anos que trabalhamos com cartas consoladoras - diz Rogério Leite.

A carta foi psicografada em 2004, a pedido de familiares do morto. Segundo o médium, 'o desencarnado' se comunicou em uma sessão pública espírita em Ourinhos. O médium diz que, naquela sessão, recebeu de 150 a 200 solicitações de notícias de entes de vítimas. Das nove cartas psicografadas, uma teria sido entregue a familiares do empresário.

- Os entes queridos dele haviam me informado, assim como outras pessoas, o nome completo dele e as datas de nascimento e falecimento. Depois daquilo, nunca mais fui procurado pelos familiares - conta o médium.

Ele diz ainda que nunca esteve com o comerciante acusado do crime.

Segundo o promotor, de olho na herança de Paulinho, que tinha um patrimônio estimado de R$ 15 milhões, Milton dos Santos teria se aproveitado de uma briga do empresário com uma outra pessoa (Valdinei Aparecido Ferreira, o Pudim), por conta de uma dívida não paga, para encomendar a morte. Valdinei, que foi condenado a 15 anos de prisão, contratou duas pessoas em Osasco para executar Paulinho. Jair Roberto Félix (conhecido como Nego) pegou 14 anos de cadeia e Edmilson da Rocha Pacífico (o Cachorrão) acabou morto na cadeia em uma briga.

- Depois da morte, Milton acabou sendo nomeado pela viúva de Paulinho como administrador dos negócios da família - disse o promotor público.

O promotor também pediu à Justiça que fosse instalado um incidente de falsidade para verificar porque Valdinei enviou uma carta ao juiz pedindo para se apresentar no dia do julgamento de Milton dos Santos para acusá-lo e depois estaria disposto a inocentar o réu, segundo informou o advogado de defesa.

http://oglobo.globo.com/sp/mat/2007/05/29/295950999.asp